No primeiro momento, vem a rejeição. Usar uma bolsa coletora parece uma medida constrangedora e desagradável eternamente. Mas, essa situação vivenciada por milhares de pessoas precisa ser revista, afinal é essa bolsa, em inúmeros casos, a saída para a sobrevivência.
Há cinco anos, a jovem Jasmine Stacey, hoje com 25, passou por uma cirurgia que a obrigou a carregar consigo, permanentemente, uma bolsa com suas fezes. E, por isso, chegou a pensar que jamais teria uma relação sexual outra vez.
Jasmine tinha 10 anos quando começou a sofrer da doença de Crohn, que lhe causava uma dor crônica e a levava ao banheiro em média 25 vezes por dia, além de ter constante diarreia com sangue e muco. Ela lembra que ir ao colégio ou à universidade era um pesadelo e que era internada em média quatro vezes por ano.
Seus médicos lhe deram uma opção para salvar sua vida: passar por uma ileostomia, cirurgia que conecta o intestino delgado a uma pequena abertura no abdômen – um “ânus artificial” -, permitindo que as fezes caiam diretamente para uma pequena bolsa – procedimento parecido com a colostomia, quando a abertura é ligada ao intestino grosso.
Em depoimento à BBC, Jasmine contou que, após 11 horas e meia na sala de operação, ficou com o que chamou de “bumbum de Barbie”, ou seja, sem ânus. Seu intestino grosso e reto estavam tão debilitados que os médicos tiveram que removê-los totalmente.
Estigma
A cirurgia salvou sua vida, mas a deixou diante de uma nova realidade. Lidar com o estigma de levar consigo, permanentemente, uma bolsa com suas fezes, condição sobre a qual ninguém quer falar pelos vários pontos delicados em que toca.
“Como falar disso quando se trata de sexo? Qual é o momento certo para tratar do tema? Logo no primeiro encontro ou é melhor esperar que as luzes se apaguem? Vão achar isto repulsivo, já que eu mesma pensava assim? Fará barulho? A bolsa pode cair?”, explica.
Depois da operação, Jasmine passou um ano sem considerar a possibilidade de sair com um jovem outra vez. Ela se sentia solitária e sua autoestima foi ao chão.”Pensava: por que aconteceu comigo, que tenho apenas 20 anos? Pensei que nunca mais voltaria a ter relações sexuais. A ideia de me sentir sexy era quase tão difícil como ter que contar a alguém que levava uma bolsa de cocô presa a meu corpo.”
O desafio de se aceitar
Mas chegou um momento em que ela se deu conta de algo: se o homem não quisesse sair com ela por conta da bolsa, então ela também preferia não sair com alguém como ele. Desde então, portanto, já se envolveu em casos de uma noite, romances curtos e até um relacionamento de dois anos. Mas também houve casos de homens que disseram não conseguir lidar com sua condição.
Por conta de complicações da cirurgia, algumas posições sexuais são incômodas para Jasmine. Além disso, há alguns cuidados, como evitar que a bolsa caia, embora seja robusta, e ter que ignorar ruídos da bolsa durante o sexo. Mas, em geral, ela é fisicamente apta a ter relações sexuais. Sua principal barreira é a mental.
Os especialistas da Surgery Cirurgia Avançada reforçam a condição do paciente que precisa ser encarada da melhor forma possível, já que, principalmente as mulheres podem recuperar sua auto estima e também sua vida sexual mesmo sendo portadoras de ostomias. “É sim possível viver bem e intensamente”, explica a equipe.
Jasmine foi aos poucos assumindo o controle da situação, e hoje ela adota algumas medidas para o momento da relação: troca a bolsa antes do contato com o parceiro, põe algumas gotas de perfume ou toma um comprimido para retardar a evacuação.
Ponto de virada
O ponto de virada em sua vida ocorreu quando teve a ideia de bolar uma linha de lingerie que se adaptasse melhor à sua condição.”Eu queria colocar algo feminino e sexy, que me devolvesse a confiança, mas não havia nada acessível para mulheres com uma bolsa como a minha”, lembra-se. “Se terei ou não relações sexuais, quero me ver bonita. Faço os desenhos para empoderar as mulheres”.
Jasmine deu um grande passo em 2015, quando deixou seu emprego como enfermeira para abrir uma empresa de lingerie, à qual, hoje, se dedica integralmente. “Agora estou solteira, mas a lição mais importante que aprendi foi como me amar e me aceitar de novo, com ou sem esse problema”, afirma.
Ela também ajudou outras pessoas, como Lydia, uma jovem que passou pela mesma cirurgia, a lidar com a condição. Por conta do destino em comum, as duas se tornaram amigas e Lydia é modelo da linha de lingerie de Jasmine.
“[A cirurgia] foi meu último recurso, meu pior pesadelo, mas se quisesse salvar minha vida, precisaria passar por isto”, contou Lydia durante um ensaio fotográfico.
“Quando saí do hospital, precisava de algo que me fizesse sentir normal de novo. E isto é o que a roupa íntima criada pela Jasmine faz”, afirma a jovem. “Todas as opções são médicas e não pessoais, então encontrar uma roupa íntima que me faz sentir como uma mulher de novo, teve um enorme impacto em mim”.
A equipe Surgery reforça o posicionamento positivo das Jasmine e Lydia. “O foco de nosso trabalho é o controle da doença, mas sem deixar de lado a qualidade de vida pós-cirúrgica desses pacientes. Essas mulheres citadas aqui, e muitas outras são grandes exemplos para quem passa pelo problema. É possível ter uma vida tranquila, normal. A Surgery foca isso no seu cotidiano de trabalho. “Prezamos não só por um tratamento de qualidade, mas também nos importamos com a qualidade de vida dos pacientes,” explica a equipe de especialistas.
Fonte: Com informações do site G1