Até cerca de 40 anos atrás, a melhor maneira de se estudar as doenças do intestino grosso era por meio de uma radiografia contrastada, denominada enema baritado, que tem como principais inconvenientes ser desconfortável para o paciente e demandar tempo do radiologista para realizar um bom exame. Além disso, para os médicos que se dedicam aos exames de imagens, realizar enemas é pouco atraente em comparação aos exames mais “high tech”, tais como as tomografias computadorizadas e as ressonâncias magnéticas.
Felizmente, no início dos anos 70 foram desenvolvidos pelos japoneses os endoscópios flexíveis, que permitem examinar o interior de praticamente todo o tubo digestivo. Ao longo dos anos, os aparelhos foram se sofisticando, permitindo atualmente imagens bastante fidedignas, de alta resolução, em HD, e com capacidade de zoom para poder se avaliar detalhes da mucosa digestiva. Assim, no caso da colonoscopia, o que ocorreu ao longo dessas décadas foi uma revolução: afora substituir a radiografia contrastada na rotina diagnóstica, esse exame passou a permitir procedimentos terapêuticos, alguns simples e outros altamente sofisticados.
Diagnóstico
Em diversas situações:
- Em casos de alterações persistentes do hábito intestinal;
- Em casos de sangramentos por via retal que não parecem ser originados da região anal;
- Quando existe a suspeita de doença inflamatória (retocolite ulcerativa ou moléstia de Crohn), da colite isquêmica (sofrimento de mucosa por circulação deficiente, mais comum em idosos) e das chamadas microcolites;
- Em parentes de pacientes com história de polipose intestinal ou câncer ligado à hereditariedade (síndrome de Lynch).
Terapêutica
O principal procedimento terapêutico por colonoscopia é a retirada de pólipos do cólon e do reto, cuja incidência na população em geral aumentou sensivelmente nas últimas duas décadas. A importância de se identificar e retirar pólipos é que existe uma categoria, a dos adenomas, cujo crescimento pode levar ao câncer colorretal, nos dias atuais o 3º ou 4º tumor mais incidente no mundo ocidental.
Outras indicações são: ressecções de tumores benignos volumosos; estancar hemorragias decorrentes de algumas doenças especificas, tais como angiodisplasia e moléstia diverticular; colocação de stents para tumores obstrutivos; retirar corpos estranhos do reto e sigmoide, tratar a chamada síndrome de Ogilvie (dilatação do cólon direito que ocorre mais comumente após cirurgias ortopédicas da região do quadril).
Seguimento
Algumas doenças requerem exames periódicos para avaliar sua evolução, tais como as doenças inflamatórias e isquêmicas, bem como os pacientes operados de câncer ou submetidos a polipectomias, com o intuito de se identificar novos pólipos ou tumores malignos que podem aparecer ao longo dos anos. Outra situação, pouco frequente, é a de portadores de ureterossigmoidostomia (cirurgia realizada até passado não muito distante).
Rastreamento
Sabe-se no presente que existem algumas situações onde existe um maior risco de se desenvolver câncer colorretal e, assim, as colonoscopias são programadas em caráter periódico, em função da situação clínica. Dessa forma, colonoscopias periódicas são programadas, em intervalos variáveis, para os chamados grupos de alto risco, como os membros de famílias com alterações genéticas que aumentam o risco de aparecimento de câncer colorretal (poliposes, síndrome de Lynch), os membros de famílias com a denominada agregação familiar (vários casos de câncer na família, de tipos distintos e localizações variadas) e parentes imediatos de portadores de câncer colorretal.
As colonoscopias de rastreamento estão também indicadas para pessoas com mais de 45-50 anos de idade, que é quando aumenta a incidência de câncer colorretal na população em geral. Caso não exista história familiar, a colonoscopia deve ser realizada a cada 5 a 10 anos, pelo menos até os 80 anos de idade.
Fonte: www.veja.abril.com.br